Algumas ações que realizamos na vida nos marcam profundamente. As que deixam marcas mais profundas são aquelas em que conseguimos atuar junto ao modelo social e mudarmos algum paradigma.
Digo isso pois essa semana tenho acompanhado uma notÃcia que me remete aos meus últimos anos de graduação, na Universidade Federal de Uberlândia. Lembro-me de nossa luta ante as diversas tentativas de sucateamento da universidade, realizadas pelo então ministro da educação (atual secretário da educação do governo de São Paulo), o Sr. Paulo Renato de Souza e o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Lembro-me de quando ingressei, no primeiro semestre, de presenciar eventos culturais de diversas modalidades: Música, com o projeto 5 e meia, onde tive o prazer de assistir a Luis Melodia, Chico Science e Nação Zumbi, Toninho Horta, Arnaldo Antunes, dentre outros, o projeto Nau de DionÃsio, apresentando e discutindo peças e filmes, diversas exposições de arte e fotografia, todas gratuitas, não apenas para o meio universitário, mas para os cidadãos de Uberlândia (e seus visitantes).
Foram 6 meses muito proveitosos que felizmente tive a oportunidade de participar mesmo que passivamente, pois a um recém ingresso, calouro, não era permitido uma atuação, além de não conhecer ninguém por ser um novato na cidade e não possuir experiência. Então, muda o reitor, entra o reitor da base governista e começam os processos de sucateamento. A princÃpio todos os projetos culturais mantidos pela reitoria são desmontados. Um palco deixado para eventos ocasionais fora sabiamente usado pelos estudantes para festivais de música, dos quais me orgulho de ter auxiliado, até o desmonte por ordem do Reitor, além de diversos outros cortes que visavam incessantemente nos prejudicar.
Foi nesse contexto que iniciou-se meu interesse nos modelos polÃtico-sociais e que me arrastou para a polÃtica universitária. Mas não é por isso que escrevo este. Isso foi apenas uma introdução para contextualizar.
O ano de 2000, para mim, fora marcado por 2 eventos. O primeiro, minha formatura, por mais que gostaria de cursar mais disciplinas, a situação financeira e familiar me exigia a conclusão. O segundo fora o processo de eleições universitárias para reitor.
Àquela época o processo eleitoral discriminava os eleitores (universitários) por categoria, sendo divididas em Docentes, Técnicos e Discentes, num modelo em que cada categoria possuia um diferencial de decisão, sendo que dados 3 votos (1 de cada categoria), o dos docentes teria um peso de 70%, e os outros 30% era dividido entre os da classe discente e técnicos.
Reconhecida discrepancia, nós encampamos nossa luta pela paridade, apoiados por um dos candidatos a reitor, o qual também possuia nossa simpatia (frente a seu concorrente). Encampamos a luta pelo voto paritário, isto é, com o mesmo peso, assim terÃamos, a cada classe, uma chance de escolhermos nosso representante, aquele que irá representar o local em que servimos ou o local em que adquirimos a ciência.
Mesmo sem o apoio governamental realizamos as eleições com paridade, no escrutinio ainda encampávamos e entoávamos as bandeiras da democracia. Nosso candidato fora eleito com ampla margem de diferença de seu adversário pelos Técnicos e Discentes e com uma pequena margem de diferença de seu adversário entre os Docentes e hoje, apesar de o atual reitor ser o da administração oposta àquela em que ajudei a eleger, 9 anos depois, tenho orgulho de dizer que cursei a Universidade Federal de Uberlândia, pois reconheço o bom trabalho que tiveram para manter a qualidade da instituição.
E quão pasmo fico eu ao saber que em uma Universidade Pública do estado considerado mais desenvolvido do PaÃs, uma instituição onde uma docente acredita que “é a única instituição do paÃs que abrange todas as áreas do conhecimento” (parafraseado), de tÃtulo de melhor do paÃs, que deveria criar não apenas os formadores de opinião, mas também aqueles que disseminarão o conhecimento, o reitor democraticamente eleito não tomará posse, pois o governador do estado, que almeja a presidência, decidiu que a escolha realizada não é válida, nomeando o 2o. colocado como reitor.
E penso, aquele trabalho que tivemos para restaurar a democracia no paÃs torna-se nulo na mão de um autoritarista cuja intenção decerto não é a de garantir à queles que ele administra (ou deveria administrar) o que lhes é de direito.
E me pergunto: É esse quem o paÃs quer como seu representante e administrador oficial?